Portugal tem uma das taxas de nascimentos prematuros mais elevadas na Europa

Como superar os desafios que apresenta um parto prematuro no aleitamento materno

Atualizado: 
16/11/2018 - 14:53
O desenvolvimento gastrointestinal e neurológico do bebé é interrompido num nascimento prematuro, afetando a capacidade inicial do bebé para se alimentar por via oral.

A provisão de leite materno é fundamental para o desenvolvimento e crescimento dos bebés nos primeiros meses de vida, sobretudo quando se trata de um nascimento prematuro[i] – nascidos antes de se cumprirem as 37 semanas de gestação. Porém, o parto pré-termo apresenta à mãe, ao lactante e aos profissionais de saúde um conjunto específico de que complicam a alimentação oral e a progressão dos bebés prematuros face ao aleitamento materno[ii].

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que nascem anualmente no mundo cerca de 15 milhões de bebés pré-termo[iii], enquanto que em Portugal, os últimos dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) assinalam que em 2016 nasceram aproximadamente 7 mil bebés prematuros. Registou-se um aumento de 5,6%, em 2001, para 7,8% em 2016, no número de nascimentos[iv] deste tipo.

Dificuldades do aleitamento materno em bebés pré-termo

Apesar dos obstáculos que possam surgir para dar de mamar ao bebé prematuro, existem inúmeras formas para alimentar o recém-nascido com leite materno. Além disso, os bebés pré-termo alimentados com leite da sua mãe tendem a receber alta hospitalar duas semanas antes dos que são alimentados com leite de fórmula[v]; porém, o parto prematuro pode provocar uma série de problemas que podem dificultar o aleitamento[vi]:

Iniciar a produção de leite:

Normalmente, a produção de leite das mães é ativado quando o recém-nascido é colocado ao peito e inicia a sucção de forma cíclica; num parto prematuro, é provável que o bebé tenha dificuldades em mamar ao princípio, pelo que a mãe pode reproduzir as sensações que ativam a produção do colostro, estimulando o peito e os mamilos com as mãos ou utilizando um extrator.

Neste sentido, é fundamental apoiar a mãe na extração precoce do leite e fomentar o contacto pele com pele – o contacto direto do bebé no peito – com maior frequência[vii]. Isto contribuirá para a libertação de oxitocina, uma hormona que irá contribuir para a produção de leite[viii] começar. Além disso, extrair um pouco de leite e deixá-lo sobre o mamilo antes de colocar o bebé ao peito pode ajudar a despertar o seu desejo de começar a sucção de forma cíclica[ix].

Coordenar o reflexo sução-deglutição-respiração:

O desenvolvimento das vias cerebrais e do tronco cerebral implicados na função motora bocal, a deglutição e a respiração é interrompido por um nascimento prematuro, afetando a capacidade inicial do bebé para se alimentar por via oral[x].

Esta imaturidade neurológica e física pode complicar as tomas de leite iniciais devido à falta de coordenação do reflexo sução-deglutição-respiração, a fadiga e a hipotonia[xi], provocando, ao lactante, reflexos involuntários como sentir náuseas, tossir e cuspir ao engolir[xii].

Até que o bebé esteja apto a alimentar-se diretamente do peito, as mães podem administrar-lhe pequenas quantidades de leite na boca com uma seringa ou com cotonetes de algodão embebidos de leite materno[xiii], permitindo ao bebé prematuro provar o leite, facilitar a transição para um aleitamento completo e revestir a sua boca com os componentes protetores e imunitários do leite.

Movimento da língua e pegar na mama

O movimento da língua é muito importante durante o aleitamento porque é ela que deve extrair o leite e transferi-lo de forma segura à faringe antes de engolir[xiv]; ao contrário dos bebés nascidos de termo, os prematuros não apresentam um padrão constante de movimento da língua ou de vácuo durante o aleitamento[xv]. Além disso, os bebés prematuros costumam apresentar dificuldades para se agarrarem ao peito[xvi].

Utilizar um adaptador de mamilo pode contribuir para facilitar o processo de aprendizagem da alimentação oral dos prematuros, contribuir para o bebé pegar na mama, à extração do leite e a minimizar a dor nos mamilos durante o aleitamento. Além disso, conforme aumenta a idade e experiência dos bebés, começarão a reduzir o uso de compressão para extrair o leite, alimentando-se de forma mais eficiente e eficaz ao regular e espaçar os movimentos de sucção e a velocidade de ingestão[xvii].

Situações stressantes e problemas emocionais

Depois do nascimento pré-termo é habitual que se transfira o bebé para a unidade de cuidados intensivos neonatais (UCIN), separando a mãe e o bebé durante a hospitalização. Em algumas ocasiões, esta separação provoca situações stressantes que podem alterar as ‘subidas e descidas do leite’ na mãe[xviii].

Além disso, os problemas emocionais na sequência do nascimento prematuro, como o stress, a ansiedade ou a falta de sono que sentem as madres durante o pós-parto podem complicar ainda mais o início e continuação do aleitamento[xix]. A estes fatores também podem somar-se o escasso acesso a uma equipa adequada e a carência de um apoio oportuno para a extração de leite[xx].

Visitar a UCIN para ver como é e como cuidam dos bebés prematuros, e conhecer e compreender como se produz o leite materno e a sua importância na saúde atual e futura do bebé pode ajudar as mães a reduzir as situações stressantes e os problemas emocionais[xxi]

Os benefícios do leite materno e a dupla extração

Apesar das dificuldades que possam ocorrer, a proteção que o aleitamento materno oferece é especialmente importante para os bebés nascidos antes da 37ª semana de gravidez. Ao nascer tão cedo, os bebés prematuros não recebem importantes fatores como o DHA (um ácido gordo vital para o desenvolvimento saudável do cérebro e dos olhos) ou a imunoglobulina G (um anticorpo) que é transportado desde a mãe ao feto através da placenta[xxii].

Por esse motivo, o leite materno dos bebés pré-termo contém maiores níveis de hormonas, ácidos gordos, proteínas, fatores de crescimento e agentes protetores[xxiii] que contribuem para evitar problemas importantes a que está exposto um bebé prematuro[xxiv], como infeções graves[xxv].

No caso de a mãe necessitar de extrair leite, o método da extração dupla permite maximizar, numa média de 18%, a quantidade de leite extraída em comparação com a extração sucessiva de cada peito ou simples[xxvi]. Este método de extração é eficaz porque um peito bem vazio indica ao sistema da mãe que deve produzir mais leite, ao contrário do que sucede se fica leite no peito depois de uma extração ineficiente[xxvii].

Para facilitar a alimentação do prematuro, a Medela desenvolveu tecnologias avançadas de extração de leite e alimentação com leite materno. Entre os seus produtos, destaque para o Symphony PLUS, um extrator elétrico duplo para uso hospitalar ou uso pessoal, graças à opção de aluguer, cuja tecnologia imita o comportamento de sucção do bebé mantendo os padrões dos bebés nascidos de termo nos primeiros dias de aleitamento e ajudando a madre a iniciar, produzir e manter a produção de leite adequada.

Finalmente, é recomendável procurar uma situação mais cómoda para a de extração, sendo que o melhor momento é aquele imediatamente depois ou durante um contacto prolongado pele com pele e/ou observando o bebé[xxviii].




[i] Patel, A.L. et al. (2013). Impact of early human milk on sepsis and health-care costs in very low birth weight infants. J Perinatol, 33, pp. 514-519.

[ii] Barlow, S.M. (2009). Oral and respiratory control for preterm feeding. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg, 17, pp.179-186.

[iii] OMS. (2018). Nacimientos prematuros. https://bit.ly/2HrY1D6

[iv] INE. Estatísticas Demográficas 2016, https://bit.ly/2Q4u5Ri, e Estatísticas Demográficas 2006. Nados-vivos prematuros (%), Portugal, https://bit.ly/2FzrC87

[v] Schanler RJ et al. (2005). Randomized trial of donor human milk versus preterm formula as substitutes for mothers' own milk in the feeding of extremely premature infants. Pediatrics. 116(2), pp. 400-406.

[vi] Medela. (2015). Análisis de la investigación. Desarrollo de la alimentación del bebé prematuro.

[vii] Medela. Análisis de la investigación. Desarrollo de la alimentación del bebé prematuro.

[viii] Uvnas-Moberg, K. (1996) Neuroendocrinology of the mother-child interaction. Trends Endocrinol Metab, 7, pp. 126-131.

[ix] Mizuno, K. Alimentar con leche materna a tu bebé prematuro. Recuperado de: https://bit.ly/2Fkoq5m

[x] Caroll, J.I. (2003). Developmental plasticity in respiratory control. J Appl Physiol (1985), 4, pp. 375-389.

[xi] Fucile, S., Gisel, E., Schanler, R.J. y Lau, C. (2009). A controlled-flow vaccum-free bottle system enhances preterm infants nutritive sucking skills. Dysphagia, 24, pp. 145-151.

[xii] Committee on injury, v.a.p.p. Policy statement-Prevention of choking among children. (2010).  Pediatrics, 125, pp. 601-607.

[xiii] Lee, J. et al. (2015). Oropharyngeal colostrum administration in extremely premature infants: an RCT. Pediatrics. 135(2): e357-366.

[xiv] Miller, J.L., Sonies, B.C. y Macedonia, C. (2003). Emergence of oropharynfeal, laryngeal and swallowing activity in the developing fetal upper aerodigestive tract: An ultrasound evaluation. Early Hum Dey, 71, pp-61-78.

[xv] Sakalidis, V.S. et al. (2013). Ultrasound imaging of infant sucking dynamics during the establishment of lactation. J Hum Lact, 29, pp. 205-113.

[xvi] Chevalier McKechnie, A. y Eglash, A. (2010). Nipple shields: A review of the literature. Breastfeed Med, 5, pp. 309-314.

[xvii] Lau, C., Smith, E.O. y Schanler, R.J. (2003). Coordinarion of suck-swallow and swallow respiration in preterm infants. Acta Paediatr, 92, 721.

[xviii] Newton, M. y Newton, N. (1948). The let-down reflex in human lactation. J Pediatrics, 33, pp.698-704.

[xix] Lau, C. (2001). Effects of stress on lactation. Pediatr Clin North Am, 48, pp.221-234; Chatterton, R.T., Jr. et al. (2000). Relation of plasma oxytocin and prolactin concentrations to milk production in mothers of preterm infants: Influence of stress. J Clin Endocrinol Metab, 85, pp. 3661-3688.

[xx] Mejer, P.P. y Engstrom, J.L. (2007). Evidence-based practices to promote exclusive feeding of human milk in verylow-birthweight infants. NeoReviews, 18, pp.c-467-c477.

[xxi] Katsumi, M. Alimentar con leche materna a tu bebé prematuro.

[xxii] Duttaroy, A. K. (2009). Transport of fatty acids across the human placenta: a review. Prog Lipid Res. 48(1):52-61.; Palmeira, P et al. (2012). IgG placental transfer in healthy and pathological pregnancies. Clin Dev Immunol. 985646.

[xxiii] Bertoncelli, N. et al. (2012). Oral feeding competences of healthy preterm infants: A review. Int J Pediatr 2012, 896257.

[xxiv] Newburg, D.S. (2005). Innate immunity and human milk. J Nutr. 135(5), pp. 1308-1312.

[xxvi] Prime, D.K.; Garbin, C.P.; Hartmann, P. E. y Kent, J.C. (2012). Simultaneous breast expression in breastfeeding women is more efficacious than sequential breast expression. 7(6), pp. 442-447.

[xxvii] Kent, JC. et al. (2012). Principles for maintaining or increasing breast milk production. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 41 (1), pp. 114-121.

[xxviii] Uvnäs Moberg, K. y Prime, D.K. (2013). Oxytocin effects in mothers and infants during breastfeeding. Infant, 9(6), pp. 201–206.

 

Autor: 
Paula Rocha - Conselheira em Aleitamento / Responsável da área de educação da Medela Portugal
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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Medela