Sociedade Portuguesa de Cardiologia

Como retirar as doenças cardiovasculares do topo das causas de morte em Portugal?

É urgente repensar estratégias e definir prioridades em torno do acesso à saúde, da igualdade e da equidade, quando em causa estão as doenças cardiovasculares, que ainda são a maior causa de mortalidade e de morbilidade em Portugal. Prevenir a Insuficiência Cardíaca e a Morte Súbita, tornando a insuficiência cardíaca uma prioridade na política geral de saúde e promover o acesso universal à desfibrilação precoce são dois passos que, no entender da Sociedade Portuguesa de Cardiologia devem ser dados com a máxima urgência!

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) junta políticos, economistas, jornalistas e profissionais de saúde, para repensarem o modelo da saúde cardiovascular em Portugal. Do encontro, “Repensar o Futuro da Saúde Cardiovascular em Portugal”, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, e no qual participaram, entre outros, o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, a diretora-geral da saúde, Graça Freitas, o diretor do programa nacional para as doenças cérebro-cardiovasculares, Rui Ferreira, o ex-ministro da saúde, Correia de Campos, o economista Pita Barros e diretor do Diário de Notícias, Paulo Baldaia, procurou-se contribuir para um melhor entendimento, por parte dos decisores, sobre a realidade da saúde cardiovascular em Portugal, na expectativa de que as doenças do aparelho circulatório possam vir a merecer um tratamento especial no Plano Nacional de Saúde (PNS) e nas decisões estratégicas em saúde cardiovascular, nomeadamente no que diz respeito à insuficiência cardíaca e à morte súbita.

Parte da estratégia passa pela prevenção e, no entender da SPC, a Morte súbita e a Insuficiência Cardíaca deverão passar a prioridade para o Plano Nacional de Saúde, desafio ao qual Rui Ferreira, diretor do programa nacional para as doenças cérebro-cardiovasculares reage positivamente!

Se para o governante, Fernando Araújo, a prevenção primária é em parte responsável por uma maior ou menor capacidade de, num futuro próximo, o estado ser capaz de suportar os custos em saúde, para João Morais, Presidente da SPC, para além da prevenção primária há outras situações que requerem a nossa atenção urgente. "Se a prevenção primária nos dá garantias a 30 anos, a aposta no tratamento e prevenção secundária, produz efeitos a 6 meses, e não podemos deixar de poder tratar os nossos doentes", partilha o presidente.

Quanto aos custos, Pedro Pita Barros refere o peso acrescido que as doenças cardiovasculares têm no atual quadro económico. Segundo o economista, o principal fator a ter em conta não é a mortalidade global, mas sim a mortalidade prematura, que acarreta um custo sócio-económico muito elevado.

Quanto a esse facto a SPC relembra que “é um lugar comum dizer-se que a Cardiologia é uma especialidade cara, mas poucas vezes é dito que é graças à cardiologia e à medicina cardiovascular que beneficiamos de uma redução progressiva e constante da mortalidade por doença cardiovascular, e que muitas das intervenções de custo elevado têm tido elevado impacto nesse sentido.”

Segundo dados apresentados nesta conferência, em Portugal, “a mortalidade por Insuficiência Cardíaca é superior à taxa de morte associada a vários tipos de cancro”, sendo a taxa bruta de mortalidade associada à mesma “superior à da diabetes, DPOC e asma”. Para João Morais, a prevalência da doença está subestimada e vai continuar a subir, “não só porque as pessoas vivem até mais tarde, mas porque vão sobrevivendo a outras doenças aumentando a probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca.”

Na área da morte súbita, a grande prioridade é “promover o acesso universal à desfibrilhação precoce, entendida como a única forma eficaz de prevenção da morte em indivíduos vítimas de episódios de paragem cardíaca”. Para esta Sociedade, o direito à desfibrilhação precoce é um direito universal a que todos os portugueses deveriam poder aceder! Tanto a insuficiência cardíaca como a prevenção da morte súbita continuam praticamente omissas do PNS e das grandes linhas de ação. “Se nada for feito nesse sentido, o número de pessoas a sofrer de insuficiência cardíaca poderá subir cerca de 25% até 2030.”

O trabalho conjunto entre tutela e cardiologistas continuará. “Gostaria que a SPC nos ajudasse a perceber como podemos chegar às pessoas e mudar a sua arquitetura de escolha. Somos bons em saúde, mas não chega. Temos que lutar e fazer algo diferente e é isto que vos peço a vós, cardiologistas!” Assim encerrou a sessão Fernando Araújo. O futuro da saúde dos portugueses continua em boas mãos.

Fonte: 
SConsulting
Nota: 
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