Tratamentos estéticos

Cirurgia íntima feminina é uma prática arriscada e cada vez mais comum

Os tratamentos estéticos vaginais são cada vez mais populares, o que levanta questões sobre a perceção da "normalidade" e os riscos médicos envolvidos.

Em 2015, mais de 95 mil labioplastias (cirurgia e/ou injeções nos pequenos lábios vaginais) e mais de 50 mil vaginoplastias foram praticadas no mundo inteiro, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Estética (ISAPS).

Praticamente inexistentes há cinco anos, estes procedimentos ocupam agora o 19º e 22º lugar no ranking das operações mais praticadas. Só no ano passado, segundo o Sapo, foram realizadas nos Estados Unidos cerca de 9 mil labioplastias, o que se traduz num aumento de 16% face ao ano anterior.

Esta intervenção consiste, geralmente, em reduzir o tamanho dos pequenos lábios a laser (fala-se também de ninfoplastia).

"Se me tivessem falado neste tipo de procedimento durante os anos 80, eu teria dito que estava tudo louco", admite Renato Saltz, cirurgião plástico perto de Salt Lake City (EUA) e presidente da ISAPS, entrevistado pela Agência France-Presse (AFP).

"As mulheres preocupam-se muito mais com a aparência dos seus genitais", observa Nolan Karp, cirurgião em Nova Iorque membro do conselho da ISAPS, que reconhece a influência da Internet neste fenómeno.

"Antes da era da Internet, quantas mulheres é que viam outra pessoa do sexo feminino completamente nua?", pergunta Karp. De acordo com o cirurgião, hoje em dia as pessoas "compreendem melhor o que é normal, o que é belo e aquilo que não é".

Uma "normalidade" difícil de estabelecer, uma vez que a aparência desta parte da anatomia feminina pode variar.

Se considerarmos como "normal" uma vagina onde os pequenos lábios "não ultrapassam" os grandes lábios, então apenas 20% das mulheres satisfaz este critério, reconhece Nicolas Berreni, ginecologista-obstetra em Perpignan, durante o congresso de medicina estética IMCAS em Paris.

"Uma vagina de Barbie"
Esta busca pela anatomia "perfeita" é "preocupante", considera Dorothy Show, ex-presidente da Sociedade de Obstetras e Ginecologistas do Canadá (SOGC).

A vagina apresentada como modelo "não tem nenhum pelo e é muito plana", como a das crianças. Uma aparência distante da realidade, diz à AFP.

Ela teme que as adolescentes, cujo desenvolvimento físico ainda não está completo, recorram a esta prática. É comum, durante a puberdade, que os pequenos lábios se tornem mais proeminentes do que os outros.

De acordo com um estudo publicado em 2005, com base numa amostra de apenas 50 mulheres, o comprimento dos pequenos lábios variava de 2 a 10 cm e sua largura de 0,7 a 5 cm.

Além disso, "é surpreendente ver cirurgiões afirmarem que uma operação destas pode permitir obter uma vagina de aparência 'normal'", sublinham os autores, convidando outros profissionais a divulgar estes resultados junto das mulheres que ponderam fazer uma intervenção cirúrgica.

Mas a mania parece que está para ficar, e se algumas mulheres sofrem mesmo com a fricção dos pequenos lábios hipertrofiados, este argumento é muitas vezes uma desculpa para preocupações estéticas.

"Em 40% dos casos, as mulheres que procuram uma ninfoplastia por se queixarem de dor estão a mentir", assegura o Dr. Berreni. "O que elas querem é uma vagina de Barbie, onde não se consegue ver os pequenos lábios", acrescenta.

A operação não está isenta de riscos: dor crónica, hemorragias, infeções. "Durante a cicatrização, há o risco de que as terminações nervosas se encontrem no tecido cicatricial, causando dor", diz Dra. Shaw.

De acordo com o guia de boas práticas da estética genital da SOGC, publicado em 2013, não há nenhuma evidência de que estas intervenções melhorem a satisfação sexual ou a auto estima.

O documento apela para que todos os médicos responsáveis assegurem que a prática não seja semelhante a uma mutilação genital.

O Dr. Berreni enfatiza que, aparentemente, "as vaginas submetidas a uma ninfoplastia envelhecem muito mal", com casos de tecidos fibrosos, retrátil e de aparência inchada.

Uma alternativa menos arriscada passa pela injeção de ácido hialurónico para aumentar os grandes lábios, que vão acabar por cobrir os pequenos, acrescenta.

Fonte: 
Sapo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock