Intervenção do Enfermeiro

Automedicação

Atualizado: 
29/04/2014 - 09:20
A automedicação é uma prática a que as pessoas recorrem cada vez mais. Os enfermeiros, pela missão que lhes está atribuída no SNS, têm um papel determinante na difusão da informação sobre os riscos e na deteção dos sinais de uso indiscriminado de medicamentos.
Automedicação

A automedicação é uma realidade cada vez mais frequente e promovida por diversos intervenientes permitindo, aparentemente, uma maior autonomia das populações na gestão da sua saúde. A possibilidade que é dada às pessoas de utilizar indiscriminadamente medicamentos, sem orientação dos profissionais de saúde e sem receita médica, aufere-lhes a responsabilidade de decisão e cuidado pela sua saúde.

Esta é uma prática atual em constante crescimento, sendo uma atividade que pode envolver riscos para a saúde das pessoas que a adotam. Convergentemente o profissional de enfermagem pode intervir na sua área mais valiosa - a prevenção.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1998) a automedicação é a seleção e o uso de medicamentos por pessoas para tratar doenças autodiagnosticadas ou sintomas e deve ser entendida como um dos elementos do autocuidado. A mesma entidade define automedicação responsável como a prática pela qual os indivíduos tratam os seus problemas de saúde com medicamentos aprovados e disponíveis para serem adquiridos sem prescrição, que sejam seguros e efetivos quando utilizados como indicado.

Nesta perspetiva, o ato de consumir medicamentos sem supervisão de profissionais de saúde, aliado à falta de conhecimento, ao uso indiscriminado e indevido de medicamentos, resulta em problemas de saúde pública, podendo ser considerado como um comportamento de risco.

Deve fazer parte do conhecimento geral dos utentes que praticar automedicação, sem apoio dos profissionais de saúde, pode negligenciar sinais de uma doença que necessite de consulta e acompanhamento, mascarando sintomas, atrasando o seu diagnóstico, conduzindo ao tratamento de reações adversas, necessitando de outros medicamentos, provocando, inclusive, o agravamento de outras doenças. Neste sentido, os profissionais de saúde devem salvaguardar a racionalidade da terapêutica medicamentosa na medida das suas responsabilidades (Soares, 2005).

Em Portugal, a automedicação começou a ser estudada mais afincadamente nos anos 80 e 90. Um estudo realizado, em 1995 e 1996, pela Associação Nacional de Farmácias sobre a automedicação, em Portugal, verificou que a prevalência da automedicação era de 26.2%, sendo mais frequente no sexo masculino, no grupo etário entre os 10 e os 49 anos, e nos indivíduos com maior nível de escolaridade (Soares, 2005).

Com o objetivo de conter o tendencial crescimento da automedicação, as principais apostas seriam a educação para a saúde e a promoção de estilos de vida saudáveis, através da orientação e aconselhamento por parte dos profissionais de saúde (Lopes, 2001).

Neste sentido, como pode o profissional de enfermagem contribuir para a prevenção da automedicação?

Os profissionais de enfermagem devem-se informar e estar atentos aos sinais de uso indiscriminado de medicamentos, devendo atuar de forma significativa, esclarecendo e promovendo uma mudança nos hábitos da população. A automedicação, associada ao autodiagnóstico sem fundamentação técnica e científica, por parte da população, deve ser uma área de atenção da prática de enfermagem, pois os enfermeiros detém esses conhecimentos técnicos e científicos, de modo a poder aconselhar e encaminhar a população a adotar comportamentos de saúde adequados.

Neste contexto, o enfermeiro possui um papel fundamental na educação e orientação dos utentes para a prática de uma automedicação responsável, ensinando quais os riscos quando a mesma é realizada de modo não responsável (Ricardo, 2011).

O profissional de enfermagem é o principal responsável pela gestão, preparação e administração da medicação nas instituições de saúde, sendo este o que estabelece uma relação de proximidade e contato direto com a população. Ao mesmo compete ensinar, informar e explicar os riscos e benefícios dos medicamentos e, sempre que necessário, junto da equipa médica, colaborar no aconselhamento dos regimes terapêuticos a adotar.

É através da realização de consultas de enfermagem (ex. com a colheita de dados, história clínica, onde também constam os esquemas medicamentosos adotados), que estes profissionais conhecem o regime terapêutico dos utentes e os comportamentos de automedicação por parte dos mesmos.

Neste sentido, consideramos importante referir que a reafirmação dos códigos de conduta dos profissionais de saúde, a promoção de educação em saúde, a adequação de campanhas publicitárias, a maior fiscalização dos órgãos responsáveis e o melhor acesso aos serviços de saúde são soluções que podem contribuir para a prevenção da automedicação em larga escala. Fomentar discussões junto da população e dos profissionais de saúde, acerca desta temática, torna-se imprescindível. (Tourinho et al., 2008; Aquino, 2008).

Bibliografia
Ricardo, A. F. T. (2011). Automedicação no aluno universitário. Projeto de graduação ao grau de licenciatura em enfermagem – Universidade Fernando Pessoa. Porto
Aquino, D. S. (2008). Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, p. 1651-1660. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csc/v13s0/a23v13s0.pdf>. Acesso em: 19 de Janeiro de 2014.
Lopes, N. M. (2001). Automedicação: Algumas reflexões sociológicas. Sociologia, Problemas e Práticas. Nº37, p. 41-65.
Organização Mundial de Saúde. Disponível em: http://www.oms.com
Soares, M. A. (2005). Medicamentos não prescritos – aconselhamento farmacêutico. Lisboa, edição Farmácia portuguesa.

Nota: Este artigo foi escrito pelos autores ao abrigo do novo acordo ortográfico

Joana Margarida da Costa Taborda (nº membro 57108) - Mestre em Enfermagem – Área de Gestão de Unidades de Cuidados. Enfermeira no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

João Manuel Nascimento Garcia Graveto (nº membro – 29229) - Doutor em Desarrollo e Intervención Psicológica. Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

José Filomeno A. Taborda da Costa (nº membro - 32499) – Enfermeiro-Chefe no Centro dessaúde de Miranda do Corvo.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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