Dia Mundial da Poliomielite

Apenas um caso de poliomielite pode pôr em risco crianças em todo o mundo

Atualizado: 
24/10/2016 - 10:51
No dia em que se assinala mundialmente a Poliomielite, a pediatra da Isabel Castro Esteves descreve-nos esta doença viral que foi diagnosticada, em Portugal, pela última vez em 1986. No entanto, a doença continua endémica em alguns países e a Organização Mundial de Saúde adverte que basta apenas um caso diagnosticado para colocar em risco crianças em todo o mundo.

A poliomielite (polio) é uma doença viral grave e potencialmente fatal, que pode complicar-se de sequelas neurológicas permanentes (paralisia flácida). É altamente contagiosa e pode ser causada por um dos 3 serótipos do vírus da polio.

Não existe cura para a poliomielite. Apenas podemos apostar na prevenção, pois existem vacinas seguras e eficazes. A melhor estratégia para erradicar a polio é imunizar todas as crianças e assim parar a transmissão. Até que a poliomielite esteja completamente erradicada, todos os países permanecem em risco de importar o vírus selvagem, como aconteceu em várias zonas do globo.

Como está a incidência da poliomielite em Portugal e no mundo?

A primeira vacina para a polio foi desenvolvida em 1953 e foi um dos grandes passos dados no caminho para a erradicação desta doença. Com o arranque da iniciativa global de erradicação da polio (GPEI - Global Polio Eradication Initiative) em 1988, a incidência diminuiu 99% até aos dias de hoje. Esta importante conquista só foi possível graças às campanhas de imunização da Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao esforço de outras organizações não governamentais.

Inúmeras áreas do globo são actualmente consideradas livres de polio (Europa, Américas, Pacífico e sudeste asiático). O último caso de polio endémico em Portugal foi declarado em 1986.

No entanto em 2015 registaram-se 74 casos em todo o mundo. A polio permanece endémica em 3 países: Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Outros países apresentam surtos ou estão em áreas consideradas de risco elevado, dada a proximidade geográfica com países endémicos que favorece movimentos migratórios e relações comerciais, associada a fragilidades das políticas de saúde pública e serviços de imunização.

A OMS considera que apenas um caso confirmado de polio no mundo, coloca em risco as crianças de todos os países. Dada a grande infecciosidade do vírus, o número de casos pode aumentar de modo exponencial e condicionar milhares de infectados, em especial nas populações susceptíveis.

Como se transmite a poliomielite?

O homem é o único hospedeiro natural. O vírus transmite-se por via fecal-oral, por contacto directo com fezes de uma pessoa infectada, ou através de água e alimentos contaminados.

Quais são os sintomas da poliomielite?

O período de incubação é habitualmente de 7 a 14 dias. A maioria dos infectados permanece assintomático ou apresenta sintomas ligeiros (90-95% dos casos).

No entanto a infeção pode causar sintomatologia geral como febre associada a cansaço/prostração, diminuição do apetite, dores musculares, dor abdominal, náuseas, vómitos e obstipação ou diarreia.

Em menor número de casos cursa com um quadro sugestivo de meningite, manifestando-se com febre, cefaleias (dor de cabeça), dor no pescoço e rigidez da nuca. Raramente (0,1 a 1% dos casos), a doença condiciona paralisia flácida aguda por destruição dos neurónios motores. Pode afectar um ou vários músculos, com predominância dos membros inferiores e pode tornar-se uma sequela irreversível.

Como se trata e previne a poliomielite?

Não existe cura para a polio, o tratamento é dirigido ao alívio dos sintomas e complicações da doença. Apenas a prevenção é possível através da vacinação.

Existem actualmente diferentes tipos de vacina para esta doença. A vacina que é utilizada em Portugal é uma vacina inactivada, que protege contra o vírus da polio do serotipo 1, 2 e 3. No âmbito da Programa Nacional de Vacinação é administrada a todas as crianças de modo universal e gratuito, aos 2, 4 e 6 meses de vida (primovacinação) e aos 5 anos (dose de reforço).

Dada a persistência de países endémicos e a elevada infecciosidade do vírus, é fundamental manter uma imunidade populacional segura através de taxas de vacinação elevadas em todos os países. São também essenciais redes eficientes de vigilância epidemiológica. Só desta forma será possível parar a transmissão e prevenir os surtos, no caminho da erradicação global da doença.

REFERÊNCIAS:      

1- Países endémicos para a Poliomielite. Global Polio Erradication Initiative. [consultado em outubro de 2016] Disponível em:  http://polioeradication.org

2- Programa Nacional de Erradicação da Poliomielite - Plano de Ação Pós-Eliminação. Direcção Geral de Saúde. [consultado em outubro de 2016] Disponível em: http://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norm...

3- Poliomielite. World Health Organization. [consultado em outubro de 2016] Disponível em: http://www.who.int/topics/poliomyelitis/en/

4- Garon JR, Cochi SL, Orenstein WA. The Challenge of Global Poliomyelitis Eradication. Infect Dis Clin North Am. 2015; 29:651-65. 

 

Autor: 
Isabel Castro Esteves - Pediatra Unidade Infecciologia HSM-CHLN e Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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