Doença rara

Alergia ao frio atinge 3% da população

Atualizado: 
09/01/2017 - 12:08
Erupções cutâneas, inchaço, comichão, vermelhidão e febre são alguns dos sintomas de uma alergia cutânea rara provocada pelo contacto com o frio e que acomete, sobretudo, adultos jovens.

A urticária é um quadro alérgico, relativamente frequente, e que consiste no aparecimento de placas elevadas e avermelhadas na pele e mucosas acompanhadas de muita comichão.

Tratando-se de uma reação cutânea a um estímulo da pele, é, “na maioria das vezes, transitória” e sem gravidade.

No caso da urticária ao frio, esta reação surge “em resultado de contato com o frio ou substâncias frias” e, de acordo com a dermatologista Leonor Girão, estes casos “são bastante mais raros”.

Tratando-se de uma reação anómala, “por ser exagerada”, pode afetar qualquer pessoa independentemente do sexo ou da idade. “Digamos que é mais frequente em idades mais jovens tal como a maior parte das alergias inespecíficas. Há também formas raríssimas de urticária ao frio que são hereditárias”, explica.

“O principal sintoma é o prurido (comichão). Como sinais o doente refere o aparecimento de manchas e pápulas com aspecto semelhante a casca de laranja devido ao edema, espalhadas pelo corpo ou em relação com a área exposta ao frio, poucos minutos após a exposição”, acrescenta a dermatologista esclarecendo que esta reação, apesar de transitória, pode tornar-se crónica e persistir durante alguns anos.

“Quando existe uma reação mais grave, em que o edema não se limita à superfície da pele mas também atinge mucosas e outros orgãos (pulmões, laringe, intestinos) pode acompanhar-se de dificuldade respiratória, cólicas, náuseas e mesmo originar colapso circulatório com desmaio, perda de conhecimento e morte”, revela.

As urticárias são, de acordo com esta especialista, “reações anómalas a diferentes estímulos – alimentos, plantas, medicamentos, pressão, exercício, calor, frio – em que o estímulo faz com que um tipo de células que existem no sangue (mastócitos) libertem uma substância - a histamina - em circulação e essa substância provoca as reações observadas”. No entanto,  por vezes não se consegue identificar o estímulo desencadeante. “Neste caso, o estímulo é o frio - objectos frios, gelo, água fria, etc”, explica.

Segundo consta, desde 2006, no Repositório do Centro Hospitalar de Lisboa, a patologia é “muitas vezes não diagnosticada, nem devidamente valorizada”, no entanto, Leonor Girão garante o seu diagnóstico é fácil. “A história clínica é muito evidente mas pode ser comprovado facilmente colocando um cubo de gelo em contato com a pele. As pápulas edematosas e eritematosas aparecem poucos minutos depois”, justifica.  

Anti-histamínicos travam quadro alérgico

De acordo com Leonor Girão, a maioria das urticárias ao frio são reações ligeiras “pelo que com alguns cuidados de evicção de frio súbito e tomando a medicação anti-histamínica são controláveis”.

“Na maioria dos casos é possível controlar com medicamentos e acabam por se ir tornando menos intensas e desaparecer”, esclarece reforçando que são raros os casos de urticária que persistem para além de três anos.

No entanto, os casos extremos existem. Beatriz Sanchez, uma modelo espanhola de 30 anos, é o exemplo perfeito.

Entrevistada pela BBC, explica como é viver limitada pela doença. “Eu não me posso sentar na casa de banho ou encostar-me nas paredes porque sei que podem estar frias. Também não posso ir almoçar fora no verão porque, muitas vezes, os restaurantes ligam o ar condicionado”, refere.

A verdade é que, ao contrário do que se poderia pensar, para que se produza este tipo de urticária não é preciso que seja inverno nem que a pele enfrente temperaturas extremas. Uma queda da temperatura ambiente de 26 para 24 graus centígrados pode provocá-la também.

“Na praia, bastava caminhar na beira do mar e levar uns respingos para ficar com a pele empolada", recorda a modelo.

"Um dia, entrei na água por um minuto e, em seguida, tive uma reação em todo o corpo que levou três horas para desaparecer", acrescenta.

"E não é só isso. Às vezes, quando eu saio do chuveiro, se demorar mais para me secar, a água arrefece na minha pele e acontece a mesma coisa", revela à BBC Mundo.

Para além da medicação, a especialista chama a atenção para alguns cuidados. “O tratamento passa por  tentar não expor a pele ao frio intenso (uso de luvas, gorros, roupa), não banhar em água fria, não ingerir alimentos ou líquido gelados, não estar em contacto directo com superfícies frias”.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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