A principal causa de alergia a pólenes são as gramíneas

Primaveras chorosas

Atualizado: 
05/06/2015 - 16:23
O bom tempo convida aos passeios ao ar livre, e à exposição aos vários pólens presentes na atmosfera. Nada melhor que os primeiros raios de sol para fazer sair de casa os mais pequenotes e os ver deliciarem-se com as primeiras flores e os primeiros odores a primavera.

Na criança as alergias são, sem dúvida, uma das maiores preocupações dos pais e também uma constante na ida aos serviços de urgência. O número de crianças com sintomas alérgicos vem aumentando ao longo dos anos.

A alergia é uma reação de hipersensibilidade a uma substância geralmente inofensiva. Na presença de um alérgeno, o sistema imunológico da criança libera histaminas e substâncias químicas semelhantes para combater o que considera um agente invasor. As reações alérgicas, por sua vez, não são mais do que uma resposta exagerada do organismo a determinada substância, agravando-se aquando do contacto continuado com a mesma É este mesmo contacto com o alérgeno que leva à libertação de certas substâncias químicas pelo organismo e que resulta na inflamação e irritação das vias aéreas e dos olhos, bem como leva a outros sintomas.

Com a idade as defesas do sistema imunitário aumentam e podem levar a criança a superar as alergias. Os alérgenos mais comuns na idade pediátrica vão desde os fatores externos, que podem propiciar as alergias, como a poluição ou os pólenes aos fatores genéticos. Existem 40% de possibilidades de uma criança sofrer de alergias se um dos pais tiver a mesma condição médica e 60% quando ambos são “alérgicos”. Entre os fatores desencadeantes de alergias, encontram-se o pólen, pêlos de animais, pó caseiro, penas, ácaros, substâncias químicas e vários alimentos.

Em Portugal a principal causa de alergia a pólenes são as gramíneas (fenos), muito frequentes na Primavera, atingindo o seu pico máximo habitualmente durante os meses de Maio e Junho. As concentrações dos pólenes existentes no ar dependem da época de polinização, que é específica para cada planta, sendo mais frequente na Primavera. Alguns autores são unânimes em afirmar que o aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses de vida ajuda a reduzir o risco de alergia na infância.

No caso das crianças, e segundo a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), estas manifestações variam de acordo com a idade, assim como dos alergénicos envolvidos. A mesma entidade explica que podem aparecer alergias logo no primeiro ano de vida, sob a forma de eczema atópico, e, mais tarde, a partir dos 2 anos, sob a forma de asma e rinite.

As manifestações da alergia são de várias formas:

  • Irritação nos olhos: Um dos sintomas mais comuns nas alergias é a irritação dos olhos, associada a um intenso lacrimejo e ardor.
  • Irritação e inflamação da garganta.
  • Irritação das fossas nasais: Os espirros e a secreção nasal são os sintomas mais comuns
  • Dificuldade em respirar: Devido à inflamação da garganta as vias respiratórias ficam obstruídas e aumenta a dificuldade para respirar. É uma situação urgente que requerer supervisão médica.
  • Erupções na pele: Os sintomas mais comuns de uma alergia tópica são: zonas avermelhadas, manchas, zonas irritadas e muito ardor.
  • Problemas gástricos: Em alguns casos a alergia também provoca diarreia, vómitos e acidez do estômago.

Das patologias associadas as mais comuns são:

Asma

É mais frequente na infância. Na maioria dos casos, aparece antes dos 5 anos e manifesta-se por dificuldade em respirar, pieira, cansaço fácil e tosse.

Rinite, sinusite e conjuntivite alérgica

A rinite é a alergia mais frequente. É comum em crianças e pouco diagnosticada. Está associada à sinusite e à conjuntivite alérgica. Manifesta-se habitualmente por volta dos 3 anos de idade e, normalmente, é provocada por ácaros, grãos de pólen e alergia ao pêlo de animais. Na conjuntivite, os olhos ficam vermelhos, lacrimejantes, inchados e dão comichão. Está associada à rinite sazonal, pelo que os sintomas se confundem.

A melhor forma de lidar com estas situações é a prevenção, assim as recomendações de vários especialistas vão no sentido de:

  • Expor a criança o mínimo possível a tempo ventoso e quente, sobretudo de manhã, que é quando existe uma maior libertação de pólen no ar;
  • Manter as janelas do carro e de casa fechadas para não entrarem ácaros e pólenes;
  • Tentar que a criança não tenha muito contacto com animais, uma vez que o pêlo dos mesmos transporta inúmeras espécies de ácaros. Caso não consiga evitar, escove o animal antes de este entrar em casa, de forma a reduzir a acumulação de pólen no pêlo.
  • É aconselhado ainda o uso de óculos de sol por parte da criança, para que os olhos não tenham contacto direto com as substâncias que andam no ar.
  • Evitar levar a criança para terrenos relvados, particularmente durante o período da manhã, fim da tarde e noite, quando a libertação de pólen é maior.
  • Assim que chegar a casa deve trocar de roupa e tomar um duche para remover o pólen ou outros alérgenos que se possam acumular no corpo e roupa.
  • Em casa deve-se limpar o pó com um pano molhado em vez de seco, de forma a evitar que este se espalhe no ar. Da mesma forma, deve usar-se um aspirador de vácuo com frequência para evitar que os alérgenos se acumulem no interior da casa.
  • Deve evitar-se ao máximo fumar dentro de casa e impedir que outras pessoas o façam. O fumo do tabaco irá irritar a mucosa dos olhos e vias aéreas e agravar os sintomas da alergia.

Existem terapêuticas eficazes na prevenção e no controlo das crises, assim como no tratamento dos sintomas agudos, nomeadamente:

  • Corticoides orais inalados e tópicos.
  • Anti-histamínicos orais e tópicos.
  • Imunoterapia Especifica (IE), que consiste na administração (via subcutânea ou via sublingual) de pequenas doses dos alérgenos em causa na criança, de modo a desenvolver “defesas” específicas quando contacta com esses mesmos alérgenos, evitando assim a reação alérgica habitual.

 

Bibliografia:

Abbas AK et al. Immediate hypersensitivity. In: Abbasm AK, Lichtman AH, Pober JS, editors. Cellular and molecular immunology. 4th ed. Philadelphia: Saunders; 2000. p.424-44.

III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma. J Pneumol. 2002;28(supl 1).

Castro, Fábio F. Morato(org); Castro, Marise Lazaretti(org).

Corticosteróides nas alergias respiratórias / Corticosteroids in respiratory allergies. São Paulo; Vivali; 1999

 

Cesaltina Rodrigues – Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica

Autor: 
Cesaltina Rodrigues
Nota: 
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